Tenho uma carteira que em tempos foi bulímica e agora é anoréxica, e acreditem em mim, a aceitação do facto não é uma sensação agradável, principalmente num mundo em que se querem pessoas magras e carteiras gordas.
E a minha carteira revolta-se. revolta-se tanto ou mais do que eu.
Se lhe dessem espaço de antena, provavelmente criaria uma nova revolução política... mas por enquanto queixa-se no meu bolso, silenciosamente, para só eu ouvir.
Enquanto via um excerto da triste reportagem sobre jovens universitários que não tinham condições económicas para manter os estudos, a minha carteira palpitou, algures nos fundilhos das minhas calças, um ténue palpitar de solidariedade para com aquelas carteiras tão ou mais inabitadas que ela, que provavelmente se sentem mal amadas, tamanho é o tempo que passou desde que uma mísera nota de 5 euros as visitou.
Por outro prisma, a minha carteira vê as carteiras rechonchudas dos senhores nas lojas gourmet como umas "grandes pêgas oferecidas" que deixam as notas entrar e sair com mais facilidade do que eu digo supercalifragilisticexpialidocious.São pouco recatadas e espalhafatosas, indiferenciadas em quem lhes deita a mão, ou no que gastam o dinheiro. Gastam milhares numa lancha de férias, ou nuns louboutins, enquanto que as carteiras magrinhas do proletariado sofrem em silêncio ressabiadas por saber que nunca vão sentir os prazeres carnais de um cartão VISA platinum junto a algumas notas de 500 euros.
Já lhe tentei explicar que o dinheiro vale cada vez menos, e que cada vez vem em menor quantidade, mas ela continua presa num mundo de imaginário fantástico, em que com uma nota de 20 euros compra 3 toilettes e ainda sobra para um gelado de 3 andares na bella itália à esplanada.
Sofre de demência. Ainda tem vislumbres do tempo em que as minhas tias-avós me davam todas uma notinha só por as ir visitar, acompanhada dos rebuçados, e do beijo revestido a buço que eu tantas vezes achei dispensável.
Folhear um catálogo é cada vez mais uma prática masoquista, que vou fazendo porque sofrer é necessário à condição humana, e acredito esperançosamente que qualquer dia, numa qualquer falha miraculosa do sistema bancário, a minha conta aumente 10 zeros para a direita, e eu possa por em prática todos os projectos consumistas que a minha carteira e os seus acessos de anemia não permitem.
E a minha carteira sofre em silêncio.
Sofre porque é cada vez mais um acessório, ela, uma organizadora, reduzida a elemento estético,
Começa a ter dúvidas existenciais e ânsias suicidas, no outro dia apanhei-a perto da janela, concerteza prestes a saltar para o além das carteiras, na esperança de reencarnar como porta moedas do tio patinhas.
Não sei se teria muita sorte, afinal, este mundo não é para pobres, mas está cheio deles, o que é uma grande ironia se pensarmos a fundo no assunto.
E a minha carteira revolta-se. revolta-se tanto ou mais do que eu.
Se lhe dessem espaço de antena, provavelmente criaria uma nova revolução política... mas por enquanto queixa-se no meu bolso, silenciosamente, para só eu ouvir.
Enquanto via um excerto da triste reportagem sobre jovens universitários que não tinham condições económicas para manter os estudos, a minha carteira palpitou, algures nos fundilhos das minhas calças, um ténue palpitar de solidariedade para com aquelas carteiras tão ou mais inabitadas que ela, que provavelmente se sentem mal amadas, tamanho é o tempo que passou desde que uma mísera nota de 5 euros as visitou.
Por outro prisma, a minha carteira vê as carteiras rechonchudas dos senhores nas lojas gourmet como umas "grandes pêgas oferecidas" que deixam as notas entrar e sair com mais facilidade do que eu digo supercalifragilisticexpialidocious.São pouco recatadas e espalhafatosas, indiferenciadas em quem lhes deita a mão, ou no que gastam o dinheiro. Gastam milhares numa lancha de férias, ou nuns louboutins, enquanto que as carteiras magrinhas do proletariado sofrem em silêncio ressabiadas por saber que nunca vão sentir os prazeres carnais de um cartão VISA platinum junto a algumas notas de 500 euros.
Já lhe tentei explicar que o dinheiro vale cada vez menos, e que cada vez vem em menor quantidade, mas ela continua presa num mundo de imaginário fantástico, em que com uma nota de 20 euros compra 3 toilettes e ainda sobra para um gelado de 3 andares na bella itália à esplanada.
Sofre de demência. Ainda tem vislumbres do tempo em que as minhas tias-avós me davam todas uma notinha só por as ir visitar, acompanhada dos rebuçados, e do beijo revestido a buço que eu tantas vezes achei dispensável.
Folhear um catálogo é cada vez mais uma prática masoquista, que vou fazendo porque sofrer é necessário à condição humana, e acredito esperançosamente que qualquer dia, numa qualquer falha miraculosa do sistema bancário, a minha conta aumente 10 zeros para a direita, e eu possa por em prática todos os projectos consumistas que a minha carteira e os seus acessos de anemia não permitem.
E a minha carteira sofre em silêncio.
Sofre porque é cada vez mais um acessório, ela, uma organizadora, reduzida a elemento estético,
Começa a ter dúvidas existenciais e ânsias suicidas, no outro dia apanhei-a perto da janela, concerteza prestes a saltar para o além das carteiras, na esperança de reencarnar como porta moedas do tio patinhas.
Não sei se teria muita sorte, afinal, este mundo não é para pobres, mas está cheio deles, o que é uma grande ironia se pensarmos a fundo no assunto.
Na minha carteira só entra real, poucos e suados, vale menos que o euro e do que o dólar. Sonhos a realizar muitos, sabe-se lá Deus como.
ResponderExcluirEscreves bem. Gostei.
Acho que a minha carteira por nunca ter conhecido muitas notas, sobretudo de valores mais elevados já se resignou ao facto de nunca as ir conhecer...há coisas que simplesmente não mudam e a desigualdade social é uma delas...
ResponderExcluirTriste, mas bem verdade.
ResponderExcluirSão as carteiras anoréticas e as contas bancárias bulímicas... :S
Fosse esse mal apenas da tua carteira...
ResponderExcluirOntem eu cheguei a conclusão que estou falida, lol
Estou a dar formação e como é normal trabalho a recibos verdes, e tenho de fazer descontos para a segurança social, relativo ao mês de Março eu vou ter de pagar mais de segurança social do que aquilo que tenho para receber :)
Como vês a falta de Euros não é problema apenas teu
Grande post Ricardo!!!
ResponderExcluirE fico profundamente enojada com as carteiras gordas,e não é por elas serem gordas, mas pelos donos o serem!!É quase vergonhoso verem-se esses gordos a pavonearem-se por ai.É uma falta de respeito e de bom senso para connosco.
Não vou dizer que não gostei do teu texto, mas dizia-te que gostei mais dele se soubesse que participas nas acções de luta que se tem feito no nosso país contra as políticas que estão a ser implementadas e que certamente influenciam o estado da tua carteira!
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