quinta-feira, junho 30, 2011

Escape



Estou encadeado.
A luz fere-me, persegue-me, sufoca-me.
Apago uma a uma todas as luzes.
Os interruptores inexistentes clicam de forma sorrateira.
Uma por uma, as luzes vão-se.
Do quarto,
Do hall de entrada,
Da sala…
Do meu cérebro.
Todo eu sou um ser escuro e escorregadio, solto das amarras luminosas que me aprisionam.
Não preciso de companhia.
O abraço sedutor da noite envolve-me como beijos de seda, e é tudo o que preciso para me deixar ir, num clímax de silencioso prazer.
Dispo-me e calcorreio cada divisão, um jogo secreto de escondidas, que jogo comigo mesmo. Já sei todos os meus esconderijos, mas não me encontro em nenhum.
Dispo-me das ideias.
Deixo as preocupações guardadas no armário, trancadas a sete chaves, impedidas de me incomodar.
Não penso.
Proíbo-me de pensar.
Deito-me num chão que sinto tão macio como um colchão de penas e deixo-me morrer.
Não é uma morte figurada e literal.
Uma pequena morte.
Mato o meu velho eu, que algures a um canto chora, com medo do escuro.
Mato-o sem piedade com uma navalha afiada no desprendimento…
Talvez por não perceber porque chora.
Não percebo porque chora do meu refúgio… também devia ser seu.
Apago as luzes e deixo-me ficar.
Lá fora o mundo corre.
As pessoas perseguem objectivos que não me interessam e lutam com problemas que não me incomodam.
Aqui dentro, no escuro, não há problemas… ou se os há, eu não os vejo.
Pelo menos até ter que acender de novo todas as luzes.

se quiserem comentar:
Qual é o vosso escape? 
E a vossa música para esses momentos? (aquela é a minha)
Vá,  partilhai. eu vou curtir a minha terapia noctívaga.

[A ouvir: Goodnight Moon - Shivaree]
[Humor: Cansado (mentalmente)]

4 comentários:

  1. Forever Young, ou então Hallelujah, mas qualquer coisa deprimente serve, uma que não me faça pensar muito.

    Gostei muito do que escreveste.

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  2. Em primeiro lugar adorei o post.

    O meu escape é conduzir, quando preciso de uns minutos de paz, silêncio do mundo, quando preciso de estar completamente sozinha, ligo o rádio, normalmente toca o cd da Ana Moura (sim, sou esquisita das ideias) e ando por aí, normalmente vou lá em cima, à montanha qur tanto me custa subir de bike. Lá no alto a paz é inexplicável.

    Ultimamente também resulta a andar de bike, o que é bom, porque o combustível está caro como o c******. Mas de bike, é dificil ir sozinha, sai-me sempre um cromo na rifa.

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  3. Parabéns pelo post!!!Está muito bom!!
    O meu escape é mesmo a música.Ou se tiver hipótese fazer uma caminhada mas sempre com os auscultadores nos ouvidos.

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  4. Afal
    Acreditas, essa música deixa-me tipo deprimido. faz-me sentir tipo mega velho xD.
    Obrigado ;)
    Loira
    Obrigado,
    Eu se tivesse carro próprio se calhar tinha esse escape. gosto de passear sozinho com a cadela e com os meus fones. também resulta bem.
    Inês
    Olha é como eu. a música é indispensável.
    Obrigado
    :)

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