quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Alguma vez mataram alguém?

Eu tive um amigo, chamemos-lhe J, e passados uns quantos anos de convivência acabamos por nos afastar, por diversos factores (que agora não vêm ao caso), até que a dada altura acabei por me “desamigar” – esclareçam aqui esse termo - dele por, não o considerar assim tão amigo quanto isso, e pela distancia, e por todos os factores dos quais (não) falei acima.
Aqui há uns dias estava a ver TV, e por causa de uma expressão qualquer que disseram na altura, lembrei-me dele (Sabem, quando alguma coisa fica para sempre associada a alguém, não importa quanto tempo se passe?)

E então aconteceu-me a coisa mais estranha.
Sabem aquela sensação de quando vão dizer alguma coisa, mas se esquecem do quê?
Eu não me lembrava dele.
E fiquei aproximadamente 5 minutos congelado a olhar para a televisão sem ver efectivamente nada do que se estava a passar, enquanto percorria as minhas memórias a tentar dar sentido À tal frase que associei àquela pessoa… mas não consegui.
Quer dizer, eu lembrava-me dele, eu sei que o J existiu e que nos demos relativamente bem, mas não me lembrava dele como uma pessoa.
Lembrava-me dele como me lembro do sofá da casa da minha avó, aquele que ela tinha quando eu tinha 8 anos.
É uma espécie de ideia base, uma vaga memória ou uma referência de algo que esteve lá, mas já não está.
Não me lembrava de como era a voz dele, De se ria alto ou baixo, De se dava gargalhadas, de se tinha os olhos castanhos pretos verdes ou azuis, de se era crava ou se cantava bem.
No lugar onde esteve um dia uma pessoa no meu cérebro, formou-se um borrão impreciso (muito ao estilo da imagem ao lado). Uma mescla indefinida de uma existência que já não existe para mim.
Já não era uma pessoa.
Já não era, simplesmente mais do que uma sombra a preencher as réplicas dos cenários onde o verdadeiro J um dia esteve dentro da minha cabeça.
É uma situação complicada de descrever, que sinceramente não tem nenhuma carga emocional, a não ser a frustração com que fiquei por não me conseguir lembrar de porque é que fiz a associação entre aquela frase e aquela pessoa que não passa afinal de um estranho que num outro tempo acabei por conhecer.
Até comentei com a Cruz que é muito raro isto me acontecer.
Sabem como em todos os filmes, novelas, livros e por aí com carga emocional em que morre alguém, há quase sempre aquele típico comentário”O *nome do personagem morto* estará sempre vivo enquanto te lembrares dele” ?
Acabei por perceber finalmente o que quer isso dizer.
E nessa altura soube que matei o J.
Não foi preciso dar-lhe um tiro, atropelá-lo, ou desejar que ele morresse com todas as forças dentro de mim.
Não houve armas.
Não houve sangue.
Não houve velório.
Não houve lágrimas.
Mas houve uma morte.
Não o matei deliberadamente (acho eu) nem de forma brusca e enraivecida.
Deixei que a sua memória morresse no meu interior até se tornar numa mera referência na minha cabeça.
E o que me fez mais confusão no meio disto tudo foi pensar que não senti nada ao aperceber-me disto.
Não senti nada.
E quanto mais pensei no assunto, mais percebo que como o J, tenho umas outras tantas “sombras” a vaguear pela minha memória, por exemplo:
Tenho a B, a minha maior crush de verão dos últimos 4 anos +-, sei que era morena, e lembro-me que usava muito perfume e que tinha a pele extremamente macia – Não sei o que vos passou pela cabeça mas eu passava-lhe imensas vezes o bronzeador – , mas não me lembro de mais grande coisa.
Ou a Daniela (Ok eu tinha de dizer este nome porque prontes) que foi a minha melhor amiga dos 10 aos… 12 anos +- e só me lembro que tinha a cara muito redonda e usava trança.
Ou do F, que ia lá à minha casa imensas vezes e com o qual fiz o primeiro acto de vandalismo (que envolvia um pedregulho maior que a minha cabeça e um carro. Não foi bonito, vos asseguro), e só sei que ele usava óculos redondos.
Não é preciso odiar alguém para que essa pessoa morra para nós.
Eu não odiava nenhuma destas pessoas (até gostava imeeeenso da B), mas elas morreram todas uma a uma “pelas minhas mãos” e sem grande coisa que eu pudesse fazer, até serem apenas silhuetas do que foram ou representaram para mim.

E eu pergunto-vos:
Já “mataram” alguém?
O que acham que é preciso para que tal aconteça?
Conseguem dar outro ponto de vista nesta sensação tão estranha? Ou interpretam isto de uma outra forma?
Alguma vez reencontraram alguma pessoa que tenham “matado”?
Se sim, qual é a sensação (nunca me aconteceu)?
Digam o que acham do assunto, subscrevam, e leiam ;)
Ah e não se esqueçam da votaçããão!

[A Ouvir: Drive -Dana Fuchs]
[Humor: Pensativo]

10 comentários:

  1. Acho que toda a gente já matou alguém. :)
    Só é uma pena que não se possa fazer isso com quem queremos, é sempre com quem não nos toca muito.

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  2. sim toda a gente ja matou alguem mentalmente como costumo dizer "sao pessoas que nem interessam ao menino jesus" e olha tens resposta no meu blog

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  3. está muito bom este texto!! e eu tb ja matei alguem dessa forma, pessoalmente acho que toda a gente já o fez :)

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  4. Era escusado ter vindo ler isto antes de ir para a cama... agora vou adormecer a pensar que sou uma serial killer. Não havia necessidade! Eu até sou boa pessoa, carago!

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  5. 1º de td uhuh até fui mencionada no texto, já sou famosa +.+

    Já “mataram” alguém?
    Já, muitas pessoas desapareceram da minha mente, mas curiosamente mais as com quem a certa altura me dei do que quem não me dei, amigos de infância, lembro-me dos nomes, lembro-me que eram bons amigos na altura, mas desconheço-lhes o rosto ou voz.

    O que acham que é preciso para que tal aconteça?
    Tempo e novas actividades e novas pessoas na nossa mente que vão empurrando as velhas para traz, nunca ficam totalmente esquecidas, apenas guardadas na gaveta de baixo ao fundo, que só remexemos as vezes por acaso.

    Conseguem dar outro ponto de vista nesta sensação tão estranha? Ou interpretam isto de uma outra forma?
    Não é uma morte é a indicação que iniciamos outra fase da nossa vida, apenas isso.

    Alguma vez reencontraram alguma pessoa que tenham “matado”?
    Sim já, um velho colega de infância com quem na altura me dava 5* e ali naquele momento pareceu-me um autentico estranho, a pesar de, ao mesmo tempo, ter uma sensação de nostalgia. E como apareceu, desapareceu de novo por entre a multidão de uma rua agitada como outro estranho com quem nos cruzamos todos os dias sem nunca realmente ver as suas caras.


    ps - tenho de voltar a escrever :x

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  6. yep, às vezes é preciso!!!

    E sim, boa perspectiva a tua!

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  7. O maior exemplo de matar alguém no sentido simbólico que tenho na minha vida, foi de uma amiga de infância. Crescemos juntas tudo fazíamos juntas, mas num determinado momento eu passei a chamar mais atenção dos homens que ela. Antes eu era o patinho feio. E ela entrou na tal competição feminina comigo de uma forma cruel. Ela me dizia umas barbaridades e eu relevava. Até que um dia ela me disse uma coisinha, tola, eu saí do carro dela, bati a porta e naquele momento eu a matei dentro de mim.

    Nunca mais nos vimos, isso tem anos. E acho que nem vamos nos ver. Ela voltou a me procurar algumas vezes, mas eu sempre fria e distante.

    Beijocas

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  8. Nunca matei... mas tenho várias vezes por dia acessos para matar alguém... ou um preto a ouvir hip hop com os fones num volume absurdo, uma criança a berrar a plenos pulmões e a mãe achar piada... era capaz de os despachar cuma pinta do caneco.
    Mas agora matar, matar só mato os SIMS à fome no jogo lol

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  9. Várias vezes... talvez porque fui obrigada a isso :/

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  10. Sofia
    É isso mesmo, há pessoas que eu nem queria "matar" mas acabei por o fazer pelos factores falarem mais alto... a distancia, e as mudanças, enfim
    Pedro
    Como disse a Sofia acima, nem sempre é assim...
    Gonçalo
    Obrigado ;)
    Pois, somos todos assassinos xD
    PFIA
    xD imagina antes que a próxima és tuuuu xD
    Paula
    veja lá não lhe suba a fama à cabeça xD
    Eu nunca mais encontro as pessoas que "mato" sei lá porquÊ xD
    li
    É Matar e ser morto... xD
    obrigado ;)
    Dama
    nooossaaa! xD eu nunca tive nenhum caso desses rompimentos tão tempestuosos por acaso...
    Dinona
    medinho de ti xD
    Corina
    é uma chatice quando isso acontece :/

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