sexta-feira, julho 01, 2011

Podia, pois podia, mas há coisas que são para ser assim


Podia ter um daqueles blogs intelectualóides profundos.
Daqueles em que se ouve tshaikovsky e se fala de politica – Gostava de falar do governo e saber efectivamente do que estou a falar – de falar de assuntos de grande interesse social.
Podia falar-vos aqui dos grandes compositores de música clássica, ou dos grandes chefes de estado que certamente seriam todos meus ídolos, fazendo-vos sentir a todos uns acéfalos de primeira.
Podia ter um daqueles blogs espirituais.
Podia falar-vos aqui de como o Gandhi curou as cataratas através de horas de intensiva meditação, e dizer-vos de que maneira se alinham melhor os chackras, e como fazer feng shui com os champôs da casa de banho. Mas talvez estivesse tão ocupado a atingir Zion que não ia ter tempo para comunicar com vocês, mundanos.
Podia ter um blog “fashion”.
Podia entupir-vos os olhos com as compras que fiz esta semana. Podia reflectir sobre a importância de um bom verniz, ou sobre se a pantene é verdadeiramente a melhor marca de champô. Podia fazer-vos sentir mal arranjados feios e desleixados, enquanto esfregava por todo o lado os meus patrocínios do boticário e da body shop.
Podia ter um blog naturista.
Ia entupir-vos de conselhos. Dizer-vos para fazer supositórios de alcachofra e azeite, e pastilhas para o hálito de botões de margarida. Podia mostrar-vos como sou superior por ser vegan, suas carcaças comedoras de bichinhos vivos! Aliás, eu até teria cuidado para não respirar pela boca, não fosse ingerir um mosquito ou uma bactéria com família.
Podia ter um blog emocional.
E dizer o que sinto.
Podia dizer que sinto uma tristeza profunda quando o sol se põe, porque tenho medo que ele fuja, ou então que vou para as vacarias do Alentejo ver os bezerros a nascer enquanto choro pelo lindo milagre da vida. Podia confidenciar com vocês as minhas inúmeras angustias, ou então dizer que tenho pensado na vida.
Podia ter um blog elitista.
Dizia que não via tv nenhuma, porque a televisão é muito banal. Que não ouvia música comercial, porque toda a gente ouve (Lady Gaga? Que bicho é esse?), fazer-vos sentir uns tristes por conhecerem as coisas que toda a gente conhece.
Podia fazer um blog de casal.
E entupia-vos com declarações dengosas de amor.
E com medos que a paixão se vá. E com prendas foleiras que dou à mais que tudo. E com fotos dos passeios, e das bebedeiras, e dos abracinhos, e do pezinho enroscado no pezinho, e dessas coisas todas acabadas em inho.

Mas o que é verdade é que não tenho necessidade que sou mais esperto que vocês, que tenho grandes propósitos espirituais, que me visto melhor que vocês, que tenho uma vida mais saudável que a vossa, que sinto mais que vocês, que sou melhor que vocês ou que tenho uma vida amorosa melhor que vocês .

Deixo isso para os outros, enquanto oiço a bela da canção pastilha elástica acima, como umas pipocas repletas de gorduras e polisaturados, num pijama dos ciganos À espera da novela da SIC, com a companhia dos periquitos.

Life can be good.
(lembrei-me disto por causa dum post do Dexter ontem)


[A ouvir: You make me feel the - Cobra starship]
[Humor: Encalorado]

4 comentários:

  1. O que acho importante é que o blog deixe passar a nossa essência. Não faz sentido querermos demonstrar aquilo que não somos numa tentativa de parecermos superiores. Até porque ninguém o é. :)

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  2. ººº
    Os blog's simples, por vezes, são os mais apelativos, sabias?

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  3. Podias, mas acredita que não era a mesma coisa. E fosse assim, muito provavelmente eu nao ligava a net de proposito só para espreitar o teu blog...

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  4. Silvermist
    Infelizmente, estes blogs que descrevi aparecem por aí como fungos.
    Jota
    Pois, tens razão... mas neeem sempre.
    Caracóis
    OOOOH *.*
    Obrigado. melhor elogio da semana xD

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