segunda-feira, março 21, 2011

Crónicas de um dono de casa desesperado II

Oh, a primavera.
Época primorosa de felicidade, os campos floridos, as cores “inhas” (azulinho, amarelinho, cor de rosinha…) as andorinhas a fazer loops no céu e os coelhinhos a procriarem que nem doidos no meio das flores , imitados pelos adolescentes com as hormonas aos pulos e tudo isto com cheiro a gomas e esta música ao fundo:


Afinal, a primavera é a estação da felicidade e da harmonia, certo?
ERRADO!
O Demo é que fez a primavera e a mascarou de algodão doce flores e vestidinhos curtos, mas a primavera é a estação retorcida de tortura de almas inocentes que habitam este mundo pacificamente (e para além do mais é a estação das alergias).
“Porquê?” perguntam os caros leitores curiosos e perplexos
“Porque é a altura das limpezas de primavera” sussurro eu apavorado.
Sim.
Todos os anos, quando as flores despontam, os passarinhos chilreiam, os dias ficam mais longos e as t-shirts voltam ao roupeiro, acontece um fenómeno sobrenatural inexplicável.
A desarrumação em toda a casa começa a tornar-se visível.
E isto acontece mesmo!
É como se andássemos com uma venda gigante, todos nós pobre humanos, e de repente tiram-nos a venda e ficamos encadeados com o que vemos.
Tenho uma hipótese altamente plausível, deve ser do pólen, desperta em nós algum sentido adormecido, e subitamente aquela fatia de pizza bolorenta ao pé do secador da roupa já não parece assim muito estética.
E todos os anos acontece isto.
De repente aquelas revistas de 2008 começam a fazer-me comichão porque já as reli demasiadas vezes, só ocupam espaço e atraem pó… e falando em pó, afinal os móveis são mesmo castanhos-claros, e não cor de cinza… e limpar debaixo da cama pode trazer o perigo de se encontrar morto no cantinho aquele pardalito que entrou cá no quarto há uns meses, encurralado entre um par de ténis chulezentos.
E então começa o terror… ehrm quer dizer, as limpezas de primavera ou “tortura mental de grau 38” como eu lhes chamo carinhosamente.
Sim, porque embora durante todo o ano se dê “um jeitinho ocasional” nas limpezas de primavera, o lixo começa a reproduzir-se como o pé de atleta num balneário público.
Fase 1: O inicio do hecatombe
·         Tudo começa com um “Oh, pelo amor de Deus, é só dar uma arrumação geral, não é nada de mais”. E é uma fase bastante frustrante, em que reparamos na quantidade de lixarada que é possível acumular numa gaveta de 30 cm quadrados. A dada altura estamos rodeados de tralha e não sabemos bem para onde nos virar
Fase 2: A triagem
·         Começamos a separar a tralha em montes. Num montinho ficam as revistas velhas. No outro ficam as canetas que não escrevem, no outro fica o serviço de chá de porcelana que a tia-avó deu no natal, no outro ficam cds riscados e por ai adiante. No fim em vez de uma torre de babel enorme e desorganizada, temos uma espécie de Atlântida de tralha empilhada de forma aleatória, mas pelo menos organizou-se qualquer coisica.
Fase 3: A deriva nas memórias
·         Quando damos por ela, estamos sentados rodeados de coisas de que já não precisamos. E de repente vem o “Oh Meu DEEEEUS! Olha isto! Ainda tenho isto? Ai que giro! Pensei que tivesse ido para o lixo!”. Não interessa o que seja. O que interessa é durante uma boa parcela de tempo nos entretemos com alguma coisa que não era tocada provavelmente há anos. Da ultima vez que fiz limpezas de primavera pus me a jogar “Bop it” isso ali da imagem. E ainda o tenho ali, porque mal por mal o jogo é tão giro… e é sempre isto. Quando damos por ela não fizemos nada a não ser desarrumar (ainda mais).
Fase 4: a ida ao lixo, ou ao inferno, com uma mula aos ombros, como preferirem
·         Isto é a parte mais engraçada. De uma maneira inexplicável, tudo aquilo que parecia pequeno e leve no chão da sala, afinal pesa meia tonelada quando arremessado para dentro de um saco preto do lixo. E nunca resulta só num saco preto do lixo cheio. É aos 3 ou 4. E como pesa muito começamos a por em dúvida se isto precisa mesmo tudo de ir ao lixo… e acabamos por deixar sempre uma ou outra coisinha que fica ali com o intuito de pensarmos se deve ou não ir pró lixo… mas no fim nunca vai, a não ser no ano seguinte.
Fase 5: A remoção dos cadáveres dos àcaros
·         Sim porque se uma limpeza de primavera fossse só aquilo nem era cá conversa. Depois entra a parte pior. Foi nesta fase que eu aprendi que há mais do que um produto para limpar madeiras, e que por muito que não se mexa na última gaveta da cómoda, o cabrão do pó consegue entrar lá dentro e temos que tirar tudo e limpar.
Fase 6: A sequela avizinha-se
·         É nesta fase que todo sujo de pó, a cheirar a amoníaco e a suor e com espasmos musculares, me sento no sofá a descansar. E é nesta altura que reparo que ainda só tratei de uma divisão da casa, e rezo com muita força para que inventem uma espécie nova de voluntariado, em que as pessoas vão limpar a casa umas das outras sem pedir nada em troca.
Mas como é óbvio, isso nunca acontece, e todos os anos lá sou eu torturado com a perspectiva sedutora de ter de limpar a casa como se não houvesse amanhã… Algum apoio leitorezicos?
Limpezas de primavera... já fizeram muitas vezes?
Acontece-vos alguma destas coisas?
Vá a comentar, ler subscrever gostar no facebook e assim ;)

Nota: já respondi a todos os comments das semanas passadas (yay), se estavam á espera de alguma resposta em concreto, podem ir ver agora.  peço desculpa pela demora, mas tenho andado com muito que fazer e não queria dar respostas sem a atenção devida.

[A ouvir: Quinella - Atlanta Rhythm Section]
[Humor: Cansado]

3 comentários:

  1. Finalmente alguém com um ponto de vista como o meu! Também falo mal da Primavera no meu post de hoje! Ahhh, é tão bom ser diferente...quando todos os blogues falam bem da natureza... haja quem tenha a coragem de falar mal!!!

    ResponderExcluir
  2. Uma das piores limpezas de Primavera que fiz, foi o ano passado quando limpei o sótão aqui de casa.
    Fiquei com um trauma para a vida.

    ResponderExcluir
  3. Filipe
    Nao gosto de meias estações, embora goste das cores do Outono e dos dias maiores da primavera, não gosto daquela indecisão. xD
    Inês
    Se eu tivesse um sótão matava-me, só para não ter que o limpar xD

    ResponderExcluir

Aproveita agora que comentar ainda não paga imposto, pode ser que responda!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...