quarta-feira, março 16, 2011

Estranhos


Bem, a votação chegou ao fim, como podem ver. 18 votos a favor e 2 contra que eu publique aqui textos e histórias e por aí afora (para todo o caso vai ser transferida para a parte de baixo do blog, para não encher tanto).
Mesmo que fosse ao contrário eu ia postar à mesma, mas ainda bem que querem ler mais coisas destas.
Obrigado a todos os que votaram, quer a favor quer contra.
Para "comemorar" aqui vai um pequeno texto que escrevi enquanto divagava.
Espero que gostem:

As luzes na estrada são pontos brilhantes no meu campo de visão.
Esqueço-me de para onde vou, mas continuo a andar sem direcção, descalço pelo alcatrão frio.
Preso numa liberdade imaginária que nunca passa disso mesmo.
Talvez por não estar verdadeiramente preso, essa liberdade não o seja…
Já não sei o que pensar.
Apanho boleia pondo-me no meio da estrada de braços abertos.
“nunca fales com estranhos” diziam-me as vozes apagadas pelo tempo
Mas não é isso que somos todos?
Um bando de estranhos misturados como uma salada russa gigante?
Não gosto de pensar.
“Um cigarro?”
“Não fumo” penso por uns segundos antes de aceitar vorazmente.
“Para onde vais?”
“Para onde me levares”
Rio-me alto. Mais alto do que queria.
Naquele momento as luzes iluminam as minhas calças de ganga pretas.
Penso que poderia fundir-me com as sombras no chão se estivesse disposto a não me mexer.
Mas não quero definhar em silêncio.
O jipe em que estou sentado cheira a ambientador barato e a tabaco.
Toda aquela mistura exótica de cheiros desperta uma espécie de alerta dentro de mim.
Uma luz que pisca incessantemente a avisar-me de perigo. E o perigo talvez nem seja assim tão mau…
“Acelera”
O barulho do motor a ronronar arrepia-me a espinha e as luzes lá fora fundem-se em riscos intermitentes. “Tu não és daqui” pergunta. Tem uma voz profunda grave mas não demasiado. Reparo que nos seus olhos há uma centelha de… inveja? Não consigo discernir.
Respondo um rápido “nós nunca somos de nenhum sítio verdadeiramente, não é?” e, abrindo a mochila preta gasta pelo sol que trago no colo, tiro uma garrafa de cerveja.
Odeio cerveja. Sempre odiei. Aquele sabor amargo e aquele gás indesejado… mas sempre é mais barata que uma garrafa de vodka… terá que servir.
Ofereço um trago ao estranho. Não me interessa vagamente saber informações sobre ele. Continuemos assim. O rapaz de calças de ganga preta e o homem estranho dos olhos invejosos. Olho para o rádio e vejo que são 3 da manhã.
“Como te chamas?”. Porra. Estragou totalmente o momento. “Geralmente não me costumo chamar”. Sorri. A Amanda ia provavelmente achá-lo um borracho. Faz bem o género dela. Olhos claros, pele bronzeada, sorriso franco e reservado, e ainda por cima fumava. A Amanda adora homens que fumam.
Agora que penso nisso, realmente sinto-me mais sexy com um cigarro na boca. Tem um sabor horrível e quase me desfiz em lágrimas com a força que fiz para não tossir. Não queria fazer figura de urso… agora que penso nisso talvez fosse um bocado tarde para pensar nisso. O fumo ácido que me queimara a garganta saia-me agora pela boca formando pequenos carreiros sinuosos pelo ar até se evaporar.
Reparei na aliança quando ele metia as mudanças. O desconhecido era casado. Jesus, a Amanda ia com ele para a cama num piscar de olhos. “Morreu há dois anos. Num assalto. Nunca fui capaz de tirar a aliança… hábitos velhos demoram a morrer…” sorriu novamente depois de responder à pergunta silenciosa que nem lhe cheguei a fazer.
Já ia na 3ª cerveja e o sabor deixava de me incomodar gradualmente.
Guiou a noite toda, calmo como se tivéssemos combinado que eu me iria por no meio da estrada com uma mochila às costas, e que ele me daria boleia por tempo indeterminado.
E as luzes da cidade continuavam a passar por nós. E pensei que o conheci melhor do que a toda a gente que passou anos na minha vida… o que nos ligava, aquele elo inquebrável que nem toda a gente aprecia… era sermos estranhos.
Afinal, não é isso que somos todos?

Gostaram?

[A ouvir: Rachael Yamagata - Reason Why] -----> muy buena
[Humor: Sonhador]

2 comentários:

  1. Eu gosto mais do blog com os textos completos... ;(

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  2. Pink
    Nada temas que o blog continua o mesmo, só vou postar textos de vez em quando. coisa que não fazia.

    ResponderExcluir

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