Não sei muito bem o motivo, mas cada vez mais se super-protegem os miúdos.
Parece que em vez de estarmos a criar crianças para serem os adultos do futuro, estamos a criar móveis do IKEA envoltos na película de papel de bolhas, como se qualquer safanãozinho da realidade fosse danificar as suas pobres alminhas - não tão - inocentes.
Se nós somos a geração à rasca, esta geração que nos está a preceder, é a “geração da bolha”, porque é assim que eles estão.
Dentro duma bolha que os deixa fazer tudo mas não deixa que ninguém lhes faça nada.
Há uns dias vi uma reportagem que envolvia uns pais extremamente revoltados por os filhos não terem condições na escola. Continuei a ver a reportagem, pensando que os ditos miúdos não tivessem casas de banho em condições, ou que a cantina fosse um antro de baratas, ou sei lá, que as paredes tivessem bolor tóxico, e eis que , para meu espanto, - é mais total aparvalhamento – percebo que a “falta de condições” era a ausência de ar condicionado nas salas de aula.
Coitadinhos dos miúdos, estando com calor - não, não era uma zona fria do país - vão ver-se sujeitos ao cúmulo de – imagine-se o estado a que as coisas chegaram – abrir a janela?
Não!
Vamos antes reivindicar ares condicionados, que é perfeitamente aceitável.
Não!
Vamos antes reivindicar ares condicionados, que é perfeitamente aceitável.
Eu sinto-me velho por falar assim, mas é verdade. No meu tempo havia hierarquias. E toda a gente convivia perfeitamente bem com elas. Numa sala de aula era o professor quem mandava, tinha uma autoridade adquirida sem grande necessidade de ameaças e uso de força. Nós estávamos lá para ouvir o professor, quem estivesse mal, baldava-se. Em casa, mandavam os pais, ou quanto muito, vivia-se uma democracia familiar (em casos de bastante sorte).
Agora não. Eu vejo miúdos com menos 6/7 anos que eu (que tenho 22) a falarem como se já soubessem tudo. Com um rei na barriga e uma prepotência sem limites alimentada pelos paizinhos permissivos e por uma vida de regras bastante elásticas e selectivas.
Não há respeito.
Se no meu tempo – Continuo a sentir-me velho – podíamos gozar um bocadinho com os professores (tenho a certeza que toda a gente tinha alcunhas para os seus)duma maneira descontraída, e sentíamos que estávamos a ter um belo momento de descontracção, hoje em dia são ataques pessoais, ameaças, um total aglomerado de má educação direccionado a quem perde horas a tentar exercitar regimentos de massa cinzenta que pelo parco uso que ganha deve estar a tender para o verde.
E depois não se pode dizer nada aos meninos, que ficam todos muito fragilizados.
Porque “são crianças”. Crianças que podem perfeitamente ligar o computador e ir ao youtube publicar vídeos em que espancam colegas só porque sim.
Para isso já não há problema, já não são frágeis.
Para irem apanhar bebedeiras antes de entrarem na adolescência estão finos.
Para levarem uns tabefes por se tornarem uns escroques do pior, ai Deus nos livre, chamem a segurança social!
Eu fui vítima de bullying durante parte considerável do meu percurso escolar.
Foi bom?
Não.
Os meus pais sonharam?
Provavelmente não.
Fui a um psicólogo, e vi filmes sobre vitimas de bullying e ouvi desconhecidos a dizer-me que tenho que ser forte e nhenhenhe?
Não.
Morri?
Não, Desenmerdei-me
Na altura em que passei por isso, nem se sabia o que era bullying por estas bandas. Eram “coisas de putos”... e se virmos bem, não foge muito à verdade. As crianças são cruéis. Sempre foram e sempre hão-de ser. Há de facto situações em que essa maldade atinge extremos, e em que se deve intervir, estar atento aos sinais e aquelas coisas todas, mas se formos fazer um drama cada vez que o Vasquinho chama á Joaninha “feia”, e chamar logo o director da escolinha e fazer um dramalhão de todo o tamanho e alegar que a Joaninha vai ficar com sequelas emocionais para o resto da vida, damos aos miúdos a impressão que alguém vai sempre lutar as batalhas deles. Se deixarmos a Joaninha desenvencilhar-se provavelmente o assunto morre ali, com uma chapada ou uma dentada na testa (já aconteceu), e uma birra, e no dia a seguir são de novo amigos.
Não estou com isto a dar aulas de parentalidade. Não tenho qualquer tipo de credenciais para o fazer, não me acho mais esperto ou habilitado do que qualquer um dos meus leitores, mas incomoda-me que se facilite tanto a vida aos miúdos de hoje em dia, porque em vez de os estarmos a ajudar, estamos a criar sanguessugas mal educadas e sem respeito pelo próximo.
E vocês?
Que outros aspectos da "geração da bolha" vos incomodam?
Que coisas aconteceram na vossa infância que agora se tornaram um grande drama (por exemplo o bullying)?
Toca a ler subscrever comentar gostar no facebook subscrever o twitter e essas coisas todas ;)
NOTA: tenho tido muito que fazer e tenho pouco tempo para responder aos vossos comentários. mais uma vez peço imensa desculpa.
[A ouvir: Inspiração - Praful]
A questão do bullyng sempre existiu, desde que me lembro. Já há 25 anos atrás assistia quase diariamente a cenas dessas no liceu, tanto lá dentro como fora dos portões. Na altura ninguém falava em bylling, nem se chamava a polícia, nem os pais, e nem se recorria a psicólogos para aliviar os traumas. E o pessoal seguia em frente e desenrascava-se como podia. Se acho que isso era o correcto? Provavelmente não era, e se existem outras formas de lidar com essas questões hoje em dia, acho muito bem que o façam. Mas uma coisa é certa, a minha geração aprendia a defender-se sozinha muito mais rapidamente, e hoje em dia vejo miúdos melindrados e traumatizados com coisas que, naquela altura, já quase nos passavam ao lado.
ResponderExcluirApesar de ter alguns ( poucos, vá! lol) anos a mais concordo em absoluto! Quais ar condicionado?! Eu ainda sou do tempo em que se ofereciam paletes de leite achocolatado, metade estragadas ao lanche. Olha rara era a semana em que alguém não apanhava uma valente dor de barriga! E se levasse da Senhora Professora ( sim era assim que tinhamos que a chamar) era porque merecia. " Alguma fizeste, que a Senhora não é louca". Agora é tudo tratado a festinhas e na tal bolha e depois é o que se vê.
ResponderExcluirAna
ResponderExcluirA questão do bullying é como disse no post, acho que há casos em que se deve intervir, mas também há que ter uma selectividade maior, nem tudo é caso de televisão e de dramas.
Lótus
Eu também recebia pacotes de leite no recreio... mas acho que não eram azedos xD
Epá, se fosse só a nível escolar... mas a bolha funciona para tudo. Eu passava o tempo com os joelhos esfolados e cheia de nódoas negras e arranhões, andava descalça e nao ficava mais doente por isso. Hoje em dia, ai se os filhinhos se sujam na escola!! Ai, tem um galo na cabeça! É negligência dos professores que não têm o filho debaixo de olho cada segundo das 8h que passam na escola.
ResponderExcluirE quem diz isto diz outras coisas. Eu cá ainda não tive oportunidade de trabalhar com o meu curso, mas sou adepta de uma educação pelo quotidiano, aprender com o dia-a-dia. Vou ser bastante clara desde o primeiro dia, para depois nem sequer terem oportunidade de se virem queixar. A menos que haja algum hemofílico XD
O Bullying nas escolas é o pão nosso de cada dia!
ResponderExcluirNem vou comentar porque concordo em absoluto contigo e convivo com esta geração TODOS os dias... aliás quem, neste momento precisa de psicólogos e de psiquiatras são mais os pais que os filhos...como professora poderia dizer que em vez de escola aquilo é um centro de bulling...hoje pior que bulling é não ter valores nem limites...e educação muito menos. Todas as batalhas que tive nunca precisei de terceiros para as resolver...não sou paralítica e tenho bons dentes.. por isso.. mas também nunca fui adepta de violência..sempre a evitei...mas jogava à pedrada, andava de fisga.. chegava esfarrapada a casa e já se sabia que eram problemas meus..aliás há uma classe profissional que nem os posso ver à frente.. os psicólogos...e os estudos que fazem...também na minha geração não havia net nem telemóveis... havia mais tempo para resolver as coisas cara a cara!
ResponderExcluirO problema dessas crianças é que são caprichadas todos os dias da vida delas, como tal acabam por se tornar fúteis no futuro porque não sabem de nada, não se souberam defender, não sabem como ultrapassar nada sem a ajuda dos pais. Portanto antes à rasca mas desenrascada do que atadinha!
ResponderExcluirAfal
ResponderExcluirÉ isso mesmo, agora pra pegares num puto parece que tens de te desinfectar toda não vá a criança apanhar a peste, sei lá.
Close Up
É uma coisa que ainda tem mais destaque do que merecia, vai ficando pior porque muitas vezes os bullies pensam que assim ganham mais atenção.
Pantomineira
Acho que a culpa não é só da net e dos telemóveis, é também dos putos que têm medo de se confrontar, estão a ficar cada vez mais hipócritas infelizmente.
Anne Marie
Olha nem mais.