sexta-feira, agosto 05, 2011

Pó de arroz e Pólvora

Acho que o meu problema foi ter nascido com uma consciência defeituosa. Não uma consciência que não funciona, apenas uma que consegue levar-me a fazer sempre as piores escolhas possíveis.
Hoje escolhi sair meia hora mais cedo do escritório, cheguei a casa e deparei-me com Robert, o meu noivo, a dar um tiro ao senhor Cheng, o vizinho do 1º andar dono da loja de conveniência da esquina.
Seria de esperar que houvesse pelo menos uma oportunidade para eu tirar satisfações, mas um revólver apontado directamente à testa de uma pessoa é uma espécie de bloqueio comunicacional.

Antes que a primeira bala me atingisse, dei por mim a fugir desesperadamente pelas escadas deixando os sacos da mercearia espalhados pelo caminho. Na altura lembro-me de pensar que os morangos caríssimos que comprei para sobremesa estavam completamente estragados depois de levarem com as latas de conserva em cima.
Agora estou encostada a um balde de lixo, a vomitar as minhas entranhas, com uns sapatos Louboutin novinhos em folha de salto partido, e umas olheiras de panda que a chuva torrencial me ofereceu, combinando-se com o meu rímel com as minhas lágrimas.

O meu psicanalista sempre me disse que eu tinha a tendência de me sentir atraída por homens de moralidade duvidosa… e verdade seja dita, as experiencias falam por si.
Desde Henry, o empresário musical com quem dormi duas semanas, que me convenceu a ser fiadora num empréstimo para um estúdio de gravações, e que me deixou a pagar sozinha o empréstimo depois de fugir para Mallorca, até Hans, ou alemão que me convidou para viver com ele, quando já tinha famílias constituídas em Hamburgo e em Viena, todos os homens da minha vida demonstraram a minha falta de capacidade de escolha.
Quis ligar a alguém, mas reparei consternada que não tinha comigo o telemóvel.

Os transeuntes olhavam para mim como se tivesse fugido de uma instituição mental, o que tendo em conta a minha aparência catastrófica não era totalmente condenável.
Olhando para o relógio apercebi-me que eram nove e meia da noite, não podia obviamente voltar para casa e fingir que nada tinha acontecido, e ir À polícia não era uma opção viável… tendo em conta que Robert trabalha na polícia. Usando o casaco como protecção – inútil – contra a chuva torrencial vasculhei a mala em busca das chaves do carro.

Amaldiçoei-me por me lembrar que as tinha no saco, junto aos morangos. No meio de maquilhagem, lenços, um snikers comido até meio, uma agenda, um carregador de telemóvel (que me deu vontade de chorar, tal era a sua inutilidade) encontrei um pequeno cartão rosa com letras douradas.
O número de Miranda.
Dirigi-me à cabine telefónica e pedi para fazer uma chamada a pagar no remetente.
-Diga que fala Alice Quarry.
E enquanto ouvia o sinal de espera do telefone rezava para que Miranda não tivesse mudado de telefone desde quando me deu aquele cartão.

Este texto foi escrito aqui há uns tempos e era para ter dado origem a qualquer coisa mais, mas nunca mais me lembrei de lhe pegar até ter visto o tema deste mês da fábrica de letras: "fugir".
Acham que devia continuar a história?
Como reagiriam numa situação do género?
Do que fogem as pessoas hoje em dia?
Toca a comentar, ler, subscrever e gostar no facebook, ah e pelo caminho, respondam à sondagem que vou colocar aqui acima.

[A ouvir: Love gets me everytime - Shania Twain]
[Humor: Cansado]

3 comentários:

  1. Continua!
    Saudades de ler um livro :c

    Boa historia. ;D mas mesmo isso historia.. nem me quero imaginar por tal situação.. *medo*

    As pessoas fogem de tudo o que tem medo, seja o que é que for que isso significa.

    PS - a votação devia ter múltipla escolha, que eu gosto de mta coisa ;o

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  2. Paula
    Só este ano já li prai 20 livros xD
    A escolha é única para restringir as respostas xD

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  3. PARABÉNS PELA PARTICIPAÇÃO.

    Interação de Amigos.
    Link.
    http://sandrarandrade7.blogspot.com/2011/08/coletiva-fugir.html

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